domingo, abril 8

Por milésimos de segundos

Por alguns milésimos de segundo penso que talvez fosse mais fácil, para sobreviver ao país que se impõe hoje diante dos meus olhos, ser um midiota fanático, que cospe para cima e pensa acertar o adversário; que solta rojões para comemorar a própria desgraça. Talvez assim, não entendesse as estratagemas sórdidas de subversão de narrativas, que fazem com que um líder, que deixou o mandato com 87% de aprovação, incomode os donos do poder, a ponto de ter a sua imagem por anos, estrategicamente, desconstruída pela Rede do Golpe, em horário nobre. Talvez assim, não fosse possível vislumbrar os MECANIMOS de uma jogatina sórdida “com o Supremo, com tudo”. Talvez assim, não percebesse o mercado que âncora a real corrupção nesse país e trocasse as provas da sujeira nas negociatas que empreendem a compra do triplex na praia de Santa Rita pela convicção do triplex no Guarujá. Talvez assim, não precisasse perceber os “Panamá papers”, entender o que desvelam “offshores”, as guerras empreendidas pelo petróleo, que já foi nosso ... e assim, talvez, não compreendesse quem sustenta o quarto poder, quem patrocina a minha novela das dez. Talvez assim, mesmo comendo arroz com feijão, diariamente, acreditasse me sentar à mesa com a Casa Grande para apreciar os indigestos patos servidos no jantar. Talvez gostasse de Miami ou caminhasse por Portugal, inconsciente de que o mesmo vermelho que colore a paisagem de lá é o pichado por mim aqui. Talvez, por alguns milésimos de segundo, assim, convertida em midiota de bem, doesse menos ser brasileiro hoje.

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