22 de Dezembro de 2016

Hoje a ancestralidade me foge às mãos.
Hoje sua voz me invade as memórias.
Hoje seus cantos me inundam a alma.
Hoje que você deixa de ser corpo para ser só alma.
Hoje que não te tenho mais aqui vó....

Como cortar raízes quase seculares?
Quem vai mexer a canjica?
Quem vai dar ponto no arroz doce?
Quem vai trazer para minha vida a receita?


Que nós nos perdoemos pelos não ditos;
pelos ditos em excesso;
pelas palavras piladas na dor;
pelos buracos na estrada;
pelas curvas no caminho;
pela broa amassada à exaustão.


Quando a rosa se desfaz em pétalas,
Quando o caule desaprisiona a flor,
Só resta confiar na magia dos ciclos.

Ainda que eu não entenda o que converte a chama em brasa,
Mesmo que não compreenda por que a cigarra se desfaz da casca,
eu tenho fé no mistério da exúvia.

Siga tranquila seu caminho vó,
que nos meus passos estarão sempre marcadas as pegadas da mulher que me ensinou a andar.