É estarrecedor ver a imprensa
brasileira noticiar o rompimento da barragem em Mariana valendo-se da palavra
tragédia. À tragédia competem desgraças inevitáveis, cujo destino é o maior
responsável. No caso do rompimento da barragem de “responsabilidade” da
Samarco, juntamente à Vale e à australiana BHP, o adjetivo trágico não
qualifica. Nesse caso, para entender os verdadeiros motivos da irresponsabilidade
acontecida em Bento Rodrigues, é preciso perscrutar o mar de lama que encobriu
a Vale nas últimas décadas e, quem sabe assim, alguns nomes possam emergir do
barro em que se afundam em prol da elevação do capital ao mais alto patamar.
Nesse sentido, faz-se necessário desenrolar um novelo histórico para trazer a
lume personagens que, há tempos, lutam para submergir o Brasil em águas
lamacentas: A quem pertencia a Vale anteriormente ao mandato de FHC? Por que se
lutou tanto pela sua venda? Foi ela vendida ao preço que valia à época? Por que
a honesta mídia brasileira faz questão de omitir o vínculo entre a Samarco e a
Vale? Quem patrocina a mídia no Brasil? Quem determina quanto “Vale” a vida
nesse país?
Imbricadas às questões aqui trazidas estão as
respostas que direcionam para o que efetivamente aconteceu e, infelizmente,
ainda acontecerá no Brasil. E é triste
perceber que os nomes perscrutados são os mesmos que lutam, com as mãos ainda sujas de lama, pela venda de mais uma estatal:
a Petrobras. Para entender por que a
memória de tantos seres humanos inocentes continuará sendo cruelmente engolida
pela lama, há que se fazer emergir memórias outras. Há que perceber que todo
rio tem seus afluentes, que a água que amanhã desembocará no Espírito Santo,
teve sua nascente em outro estado. Para entender Bento Rodrigues é preciso
entretecer nascente, afluentes e foz. Somente dessa maneira, entender-se-á que
o mar de lama que hoje encobre a cidade mineira, teve sua nascente para além
das águas de Minas Gerais. Dessa maneira, perceber-se-á que as nascentes nem
sempre são minas de água, muitas vezes as fontes encobrem outras minas.
Ao que parece, na maioria
das vezes, a privatização coloca o capital, principalmente o estrangeiro, em um
altar, posto para além das correntezas, enquanto seres humanos inocentes são,
cotidianamente, varridos pela lama.
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