Eu não preciso que você me diga quem eu sou.
E caso ainda não saiba, vou lhe dizer o que nem Freud precisa vasculhar para encontrar.
O que eu sou está estampado na cor da minha pele negra, nas ondulações da negritude de uma história que resiste.
Morena não enaltece, ofende, desbota a minha cor.
Eu sou a herança de pisadas marginais.
Eu sou a prostituta na esquina.
Eu sou a mulher, cotidianamente, violentada pela cultura que seu machismo avaliza.
Eu sou o homossexual, diariamente, assassinado e que rende as suas piadas de fim de semana.
Eu sou a travesti que não traveste em você o ódio.
Eu sou o índio sem oca, o cacique, ainda hoje, despejado da própria terra.
Eu sou o menino na cruz.
Eu sou o menino sem nome, sem os seus sobrenomes, sem a sua cor, crucificado, apedrejado, enquanto você espera que o seu menino Jesus volte para lhe dar a redenção.
Pois, lhe digo que Jesus sou eu.
Eu sou o menino que você não vê.
Eu sou o dobrar da esquina, a beira da estrada, a margem da história.
O menino sou eu,
Eu sou o menino que você escolhe, repetidamente, não ver.
Eu sou o filho do terreiro de Olorun que você não crê ser o legítimo filho do Pai.
Pai? Que Pai?
Eu sou menino sem berço, sem o seu berço,
tirado dos braços da mãe e lançado às periferias.
Eu sou o centro da raiva que você tolera.
E estou, novamente , em nome do seu ódio, estampado, no centro da cruz.
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