segunda-feira, janeiro 7

Carteira assinada

Meu lugar não é mais aqui.
Não me peça carteira assinada, quando são asas o que eu sinto em mim.
Não me peça Gonçalves Dias, quando é Mário de Andrade quem mora aqui.

Meu lugar nunca foi esse.
Prefiro comigo-ninguém-pode às rosas que pra mim cheiram vermelho demais.

Nasci pra dormir quando os olhos fecharem,
sentir quando a fome vier.

Me deixe com o meu português,
que os pronomes retos ou tortos eu decido onde colocar.

Me deixe cuspir.
Cuspir nessa vida metrificada que, mensalmente, insiste em me engaiolar.

Suma com seus relógios porque eu não nasci para ponteiros.
Afaste de mim essa vida carteira assinada
porque hoje eu decido o quão livres os meus versos devem ser;
porque despertador só funciona pra quem dá a ele o poder de acordar.

Hoje eu quero dormir na medida do meu sono.
Quero falar no volume natural da minha voz.

E que os esforços pra me ouvir faça você.
E que os medos de escutar tenha você,

porque eu vou falar na medida da minha necessidade.
E o que você vai pensar, pense sozinho
porque eu não me preocupo com a cor da sua grama.
Para mim não interessa se você come alpiste ou caviar no jantar.
Só o que me importa hoje é se minhas asas continuam intactas para voar.

2 comentários:

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